sexta-feira, 3 de julho de 2009

O gordo




Eu não gosto muito de futebol. Já tentei, me esforcei, mas ainda prefiro assistir poker à ver 22 caras correndo atrás de uma bola. Entretanto, jogos rendem lá suas risadas. Homens são perversos com as mães dos juízes, com os jogadores e com o filho da puta do técnico que não troca aquele viado que está correndo que nem uma gazela de uma ponta a outra.

Eu estav sentada na arquibancada, tranquilamente, lendo meu livro e vendo o futebolzinho de várzea da família. Já no fim do jogo, ouvi:

- Gordo só atrapalha - disse um velho aspirante a jogador, que não fez porra de gol nenhum, mas se sentiu no direito de por a culpa nos outros antes de olhar pro próprio umbigo.

- Pior que é - disse outro comparsa perdedor.

Olhei pra quadra para ver de quem ele estava falando e fiquei vermelha de raiva. Só não respondi porque minha mãe me deu educação e Deus, graças à Ele mesmo, autocontrole.

O "gordo" que só atrapalhava era meu irmão que, depois de dois anos na luta contra uma doença rara no cérebro, tinha finalmente se livrado de um tumor no cérebro. O meu irmão tinha tido alta fazia dois dias, e só agora poderia voltar a praticar atividade física e reorganizar a dieta.

Fiquei pensando se o cara - que também não era nenhum símbolo sexual; aliás, tava mais pra um tiozinho daqueles que a gente só foge nas baladas - abriria a boca para falar qualquer coisa do tipo se eu tivesse contado a ele porque o "gordo" tava "gordo".

Eu fui gorda durante mais da metade da minha vida. Sofri preconceito, na rua, na escola, nos almoços em família, dos meus próprios pais. Ouvi tudo calada, mas guardei cada ofensa, que é o que me fortalece para continuar sendo magra e linda como sou hoje.

Acho engraçado as pessoas criticarem as outras. Você lá sabe o motivo por que aquela senhora não dirige mais? E por que aquela mulher nunca corre ou faz atividades aeróbicas? Você sabe por que aquela menina linda é gorda e come sem parar?

Não sabe, né?!

Vou te contar um segredinho: talvez nem a pessoa saiba.

Ninguém gosta de olhar seus defeitos, mas alguns conseguem encará-los. Outros, mais corajosos, conseguem superá-los. A grande maioria, entretanto, convive como se eles não estivessem ali.

Quando eu era gorda eu comecei a fazer terapia de grupo pra descobrir por que eu não conseguia simplesmente parar de comer. Quando comecei a ouvir as histórias, simplesmente olhei pra mim e pensei "Ca, você não tem nenhum problema e tem a vida pela frente. Vence essa!".

Bom, eu venci. Mas é bem verdade que eu não tinha nenhum grande trauma ou coisa assim. Eu só gostava de comer e era triste porque nenhum menino olhava pra mim nunca (será que isso não era um grande trauma?). O que eu não sei era se a Senhora que apanhava do marido com tijolos tinha conseguido superar seus problemas, separar-se dele e de seus kilos. Eu também nunca cheguei a receber notícias da quarentona que foi estuprada e preferiu ser gorda à ter alguém lhe apreciando novamente. Ou até o simpático Senhor que não abria mão de seu churrasco com os velhos amigos aos finais de semana.

Grandes ou pequenos, são sempre problemas que levam às pessoas a se renderem aos prazeres da gula sem medir as consequências. Aquela capa de gordura os protege de algo, e também os impede de ser feliz.

Por isso, por favor, não julgue ou ofenda ninguém NUNCA, porque você nunca sabe pelo que aquela pessoa passou e passa na vida. Cuide da sua e deixe que eles cuidem da deles, ok?

Nenhum comentário: