A tal da Paula antes do maridão era uma pessoa completamente diferente. Ser solteira, por si só, te faz irresponsável. Mas ela era ligada no foda-se eterno. Não ligava pra nada, fazia tudo que queria e não se importava se iam falar dela depois ou não. Afinal, IBOPE é luxo! Ela conseguia ser tão irresponsavelmente feliz com seus casos, que não raramente eles se tornavam grandes amigos. Amigos de confidências. Amigos que pegavam outras mulheres e ligavam pra Paula pra pedir opinião de conquista, de xaveco, de finalização, etc. Ela era um quase brother... Com sentimentos em alguns momentos. Ela se apaixonava também. E se fudia, porque com essa mania de ser "de boa" ela acabava criando uma armadura que não a permitia se expressar. Ela nao dizia que amava, não mostrava estar apaixonada, não ligava pra combinar nada a menos que fosse quinta-feira e ela estivesse pensando no final de semana. Ela era quase homem de cabeça, mas tinha coração de mulher.
Eis que um dia um daqueles infiéis tinha deixado o amor entrar no coração da garota, e justamente nisso apareceu o tal do maridão. Ela mudou de vida, se entregou ao amor, aos costumes da boa etiqueta da vida a dois, às justificativas e a uma porrada de coisa que ela nunca tinha feito antes, e que condenava. Condenaria agora se não fosse apaixonada e amasse o cara, que ela nunca negou que era um da espécie "pra casar", praticamente em extinção.
E pra que contar tudo isso? Por causa do boneco lá que voltou de viagem.
Uma vez que ela já tinha tido a recaída, ela não conseguiu evitar se apaixonar. Burra total, mas ainda assim, mulher. Ela queria que o Henrique (esse era o nome daquele que a deixara anos atrás) ligasse, a chamasse pra sair novamente, mandasse um bombo correio com uma mensagem fofa, QUALQUER COISA! Mas ela sabia que era perder tempo esperar qualquer coisa dele. Ele não tava nem ai pra nada nunca. Só ligava quando queria muito. Tinha cara de santo, mas só de olhar você já sabia que não colocaria a mão no fogo por ele. Tinha um sorriso travesso, um olhar profundo, uma lábia que ela conhecia bem = igual a dela! Por conhecer-se tão bem, e por saber que eram iguais, ela sabia que ia passar de ridícula se tentasse contato.
Ela tentou, tentou mesmo. Tentou mudar número de telefone celular, tentou desligar-se de redes sociais comuns aos dois e tentou não ficar procurando por ele no olhar em cada esquina que cruzou nos próximos dias. Fracasso total! Ela tava com o maridão há tanto tempo que a falta que sentia de se apaixonar e de querer esperar por alguém que talvez não viesse a dominaram completamente.
Ela sabia que todo dia tinha que voltar pra casa, fazer jantar pro maridão, comparecer, conversar, ouvir, falar. Mas durante todo o resto do dia ela tinha a cabeça totalmente livre pra pensar no que quisesse, e essa liberdade de pensamento era primordial pra que ela continuasse respirando.
Ela havia sido uma expert em "deixar pra lá". O fato de ser deixada pra lá a matava. Ela tinha uma vida construida, uma família. E havia agido impulsivamente ao deixar o coração decidir o que faria após a ligação do supermercado. Agora ela tinha que lidar com uma Paula com a mesma vida de aparências, mas com um coração que não parava de doer de tão apertado e uma cabeça fervilhando pensamentos.
Por que ele não ligava?
(CONTINUA)
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