Ela achava que vivia a vida. Sobrevivia bem. Namorava há 6 anos, desde os tempos de colégio. Se davam bem, eram companheiros, amigos, amantes, irmãos. Faziam tudo e compartilhavam suas vidas juntos, se adaptando aos gostos um do outro. Ela não achava que sentia falta da vida bohemia porque ela nem mesmo sabia como era. Não viveu os dias de cerveja depois do colégio, de bilhar com os amigos, de jogos de faculdade, de raves, de micaretas, de amontoados de gente querendo mais é beijar na boca e ser feliz dali pra frente e pra sempre. Ele também não viveu isso. Viveram juntos. Construíram suas vidas lado a lado.
Um dia, se estranharam. Pararam pra pensar no porquê se toleravam. Ela começou a procurar respostas. Começou a pensar como teria sido diferente se não tivesse compromisso. Abriu a porta e deixou alguém de fora entrar em sua vida pra mostrar que haviam outras formas de prazer curtição. Mas espera! Ela namorava. E ele? Também! Então tá tudo certo!
Sem querer continuar enganando aquele que a fizera feliz e viva por anos, tomou a decisão e colocou um ponto final. Doeu, doeu pra caralho. Sentiu falta nas tardes de domingo, nas estréias de cinema, nos jantares de família. Viu o coração vazio por um tempo, até que olhou por outra perspectiva e, como já doía menos, percebeu que o vazio era, na verdade, OPORTUNIDADE. Soltou as feras e foi viver tudo o que tinha pra viver, tudo o que tinha sonhado, mas ainda não tinha realizado. Foi ser feliz de outras formas, conhecer outras pessoas, conhecer-se, rir até a barriga doer.
Embora tenha sentido a dor, quase não sentiu a solidão. O mocinho que namorava ainda a acompanhava nos momentos felizes, e eles eram felizes porque ela aproveitava dele, ele aproveitava dela, e ela sabia, bem no fundo, que respirava aliviada por ele ser de outra pessoa. Era melhor assim. Assim ela podia se jogar curtir com ele tendo a certeza de que não engataria outro relacionamento. Não, ela não queria. Ela queria desbravar o mundo, talvez com alguém em um dia ou outro, mas nada de responsabilidades exageradas e chatas de novo.
Um dia toca o telefone:
- Carla?
- Oi querido - era ele! O Namorador! O traidor! O amante ideal!
- Precisamos conversar.
- Claro, nos encontramos no açaí em meia hora.
Se arrumou e partiu meio sem pensar. Se pensasse, sabia que não ia gostar da própria imaginação. Pessoas recém saídas de relacionamentos ODEIAM a frase "precisamos conversar".
Chegou e encontrou Fernando já sentado, mãos tensas, suadas, entrelaçadas no copo de suco natural. Cumprimentaram-se com um beijo simples (coisa de 5 min, o mínimo para casais que estão se conhecendo pegam sem se apegar) e ela sentou-se ao seu lado, sentindo um clima estranhamente feliz no ar. Isso era mau, muito mau.
- Pode falar Fe - disse sem rodeios
- Acabou.
- O que? Vc passou nas provas? Q máximo!
- Não. Acabou. Meu namoro. Coloquei um basta.
As pernas de Carla tremeram, seu coração parou de bater, sua boca não se moveu, como se tudo tivesse congelado no tempo. Ela queria isso mais do que tudo, não é? Não, não é.
Ele quebou o silêncio:
- E ai, legal né? Agora a gente pode ficar junto e namorar em paz.
Opaaaaaa! Pera lá! Quem disse que ela quer namorar de novo?
- Namorar? - ela disse quase sem voz
- É, agora podemos ficar juntos sem medo de sermos vistos e sermos um casal decente.
- Fe, por que você terminou com ela?
Ele falou por 5 minutos apenas 1/100 dos defeitos que via na agora ex, justificando cada um com uma história sobre uma daquelas brigas insuportavelmente ridículas chatas que ele sempre tinha com a garota do passado.
Carla respirou fundo e...
- Então Fe, você terminou porque precisava terminar, não por minha causa. Você fez o que era melhor pra vocês, e agora podemos sim continuar nos vendo, mas não acho que temos que namorar. Acabamos de sair de dois relacionamentos longos e desgastados, e temos que aproveitar o fato de sermos solteiros. Claro que ficaremos juntos e faremos muita coisa legal, mas temos que descobrir o que queremos e darmos um tempo para nós mesmos ao invés de engatar outro compromisso.
Fernando pensou, olhou pro lado, tomou seu suco e ficou em silêncio por alguns minutos. No fim, concordou.
Ela, que agora era solteira e feliz, estava aprendendo com primor como manipular o sexo oposto como lidar com as diferenças de vontades entre os dois, e ela tinha decidido o que queria faz tempo tinham decidido juntos que era melhor assim.
Carla olhou na agenda do celular e combinaram de se encontrar em 10 dias. Ela teria 10 dias livres pra fazer o que quiser, e ele tinha 10 dias pra se arrepender de terminar o namoro começar a se acostumar à nova vida.
E viva o desapego! ...Só não vá se arrepender!
(Post inspirado em situações cotidianas)
2 comentários:
Poxa, vc escreve bem hein!?
Achei esse post interessante. Gostaria que vc publicasse mais relatos cotidianos. Li umas 3 vezes. Interessante e comovente essa história.
Eiiii obrigado!
Eu vou tentar te atender, mas esse blog é meio de "o que vier à mente". Tem mais coisa cotidiana aqui, mas nao assumida ;)
Vlw por ler!
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