A minha (péssima) escolha

Hoje, no trabalho, surgiu um assunto que há muito me incomoda: escolha de carreira. Pra quem não sabe, sou agente de viagens não por opção. Eu e elas, as minhas colegas em horário comercial. Todas saímos da escola com 17 anos e fizemos a escolha infeliz de Turismo como curso de graduação. A maior merda! Não foi uma escolha muito acertada, e nem de longe lucrativa. É um curso caro que te forma em uma profissão que não é reconhecida e tem um piso salarial que é um cu que mais parece um salário mínimo.

Tirando o fato de que você nunca será capaz de pagar suas contas e manter a vida que seu pai te deu, você fica condenada a trabalhar em TODOS os feriados, carnavais, dias santos, comemorações de final de copa, dia do índio, do vizinho, da sogra, e por ai vai. Pior que isso, você está fadado ao tratamento direto com o público.

Sabe, eu gosto das pessoas. Gosto quando sentam na minha mesa e abrem suas vidas, me pedindo uma opinião de pra onde ir ou o que fazer. Gosto de ajudar, de fazer a diferença pra elas. Não gosto quando não raramente aparecem aqueles que acham que prestador de serviços é um lixo que deve ser tratado como tal. Aqueles que acham que podem gritar com você como se você não tivesse sentimento nenhum, que acham que você vai trabalhar pra fuder com a vida e com a viagem deles. Cada dia mais é mais gente sem sentido que me aparece e que me faz suspirar de cansaço.

Já me stressei mais - tanto que ser stressada é hoje parte da minha personalidade -, mas hoje eu já tento não me importar muito. Hoje funciona assim: vc fez sua viagem com quem? Comigo né? Então ou nos tratamos com respeito ou vc vai ter bem mais problemas com suas férias, pq eu não vou mover uma palha por você. Afinal, meu salário é baixo mesmo e ele não vai aumentar se eu resolver deixar você gritar comigo.

O pior de ter feito essa escolha maldita com 17 anos é que eu sinto que fracassei comigo mesma. Sinto que não sou quem eu nasci pra ser, que eu não faço o que nasci pra fazer. Foi pensando nisso que fiz 5 semestres de jornalismo, e nesse curso me senti bem mais feliz comigo mesma. Não terminei porque descobri que eu já sabia escrever e que eu provavelmente não ia escrever matérias com lead ou tema político na vida. Se for pra escrever algo um dia, ou vai ser dica de relacionamento, ou auto-ajuda, ou história cotidiana PREFERENCIALMENTE teen, que é de onde tiro minhas maiores inspirações.

Talvez eu volte e conclua jornalismo pra ter o diploma, ou talvez eu mude e faça matemática pra poder dar aula (o talento perdido que vos escreve foi melhor aluna de matématica quase o colégio e colegial inteiro), ou talvez eu deixe cair no esquecimento. Sempre amei estudar e me dedicar e tirar a melhor nota possível da turma, mas quando eu me lembro do meu TCC de turismo e de todas as ironias que eu não engoli até hoje com aquele grupo dos infernos, eu desisto na hora.

Não sou pessoa de grupos. Gosto de estar rodeada de pessoas, mas quando fala-se em por seu nome em um trabalho, esse trabalho tem que ser o melhor. Não sou de por meu nome, pelo qual zelo tanto, em qualquer porcaria. E por isso sou uma briguenta nata que não deixa as coisas serem feitas sem bibliografia correta, sem checagem de dados e, principalmente, sem uma escrita simples, fácil e prazeirosa. Acho que por isso que tive vários inimigos na faculdade... Eles não passavam de um bando de folgados que ficavam bravos comigo porque eu não ia entregar um trabalho mal feito de 2 páginas e nunca, jamais!, deixaria ninguém colar de mim em uma prova.

Uma outra colega de trabalho me chegou com prospectos de curso de pós graduação, coincidentemente hoje também. Li a palavra "gestão" e já olhei meio torto, mas prossegui. Um era Marketing e o outro Negócios. Marketing eu até faria, mas eu não sinto que seja uma pessoa de administrações em geral. Me sinto muito mais como uma alma criativa ou como uma prof liberal do que qualquer coisa.

Me sinto, na verdade, perdida. Todo dia acordo pra fazer uma coisa que eu não amo de paixão, sabendo que eu tenho talento pra muito mais, mas já me sinto velha pra recomeçar.

Talvez, numa próxima vida, eu acerte minha escolha e vá direto pra uma engenharia de produção ou arquitetura. Ou talvez eu escreva um livro e ele se torne um bestseller, e ai poderei ficar sentada na minha casa de frente pra praia tendo inspiração pra poder encantar e tocar outras almas por esse mundo...