quinta-feira, 2 de abril de 2009

Cotidiano

Putaqueopariu, pensei.
Eu nunca fui a "senhora paciência" ou algo do gênero, mas eu juro que eu estava tentando melhorar nesse aspecto. O problema era que tudo tinha limite. E aquela palhaçada tinha conseguido acabar comigo, com meu humor, com minha tolerância, com meus "bons modos".
A questão era a seguinte: eu tinha decidido mudar. Sabia que não ia ser fácil mas, ainda assim, não dava pra continuar infeliz. Resolvi tentar algo novo. Ousei: tentei outra faculdade. Tentei outra profissão.
Tudo ia bem, mas as pessoas começaram a incomodar meus "planos felizes" quando o novo semestre começou. Eu entendi perfeitamente que a faculdade estava recebendo 10 mil novos alunos e tinha que causar uma boa impressão tratando-os bem. Eu era um macaco velho, podia ser deixada de lado por um tempo com meu pedido de dispensa de duas disciplinas. Por isso fui uma boa menina e esperei 1 mês. 2 meses. 3 meses.
Chega!
- Vocês não acham que 3 meses é muito tempo pra dispensar minhas matérias no sistema? - disse tentando manter o controle.
O atendente apenas fez que sim com a cabeça. TÍPICO! Fazia 6 anos que eu via aquelas caras de cone quando precisava de um favor, ou precisava apenas que a faculdade cumprisse o prometido.
Ser cone: a característica fundamental para quem queria trabalhar lá e levar uma vida sossegada. Bastava fazer cara de paisagem enquanto te xingavam de tudo quando é nome e ver fotos no orkut enquanto falava pro aluno "Só um minuto que eu estou verificando". Outra característica fundamental: ser incapaz de resolver qualquer problema que vá além da impressão de um papel (só frente) ou de abrir um protocolo (independente da solicitação, o treinamento básico ensina que encher alunos com números de protocolo é um padrão de atendimento).
A verdade é que isso parecia uma repartição pública. Esses caras não estavam nem ai pra gente e pros nossos problemas. Eles estavam apenas cumprindo o expediente. E eu, aluna? Eu estava me fodendo por depender de caras de não queriam me ajudar.
Contei até 10. Até 100. Até 1000.
- Sabe o que eu acho engraçado? - disse para o atendente. Se ele estava lá para ouvir reclamação, então eu ia honrar a função dele. - Quando eu preciso de vocês para qualquer coisa, vocês protocolam e me enrolam por meses. Agora, quando eu atraso um pagamento, vocês me ligam no dia seguinte para saber qual é o problema.
Pior que era verdade. Eles podiam te enrolar a vontade, mas a recíproca não era verdadeira. Não mesmo. Odeio essas instiuições de "ensino" de hoje, onde a hierarquia de prioridades é: 1) dinheiro; 2) infra-estrutura adequada para manter as aparências e fazer propagandas no horário da novela das 20h; 3) ensino de qualidade (quase sempre) para ter várias estrelas no guia do estudante Abril; [...]; 100) o aluno.
Acho que o atendente se cansou de mim porque, vendo que eu estava puta, mas pensativa, se levantou da cadeira dizendo que ia tentar resolver meu problema e sumiu pela porta de acesso exclusivo aos funcionários.
Nos 30 minutos que se seguiram ele não voltou por aquela porta. Aliás, eu tinha medo dela. Nunca, na história da humanidade, alguém voltou daquele ambiente desconhecido com uma solução. Eram apenas novas desculpas e "sinto muito"s.
Eu sempre imaginei o que os atendentes faziam lá atrás. Eles sempre demoravam séculos e não resolviam nada, o que me levou a acreditar que eles se divertiam a valer enquanto nós esperávamos. Será que eles saiam pra comer? Pra beber cerveja? Ou será que eles montavam um super helicóptero de Lego? Pior, será que eles estavam jogando WAR ou Banco Imobiliário? São muitas hipóteses de divertimento porque, como disse, ninguém nunca voltava com uma boa resposta e por isso eu só consigo acreditar que ninguém trabalhava lá. Eles apenas desenvolviam a fascinante "arte de enrolar um aluno de graduação".
Ele demorou tanto que, quando voltou - previsivelmente sem a minha solução - eu já estava calma e já tinha lido 30 páginas do livro da Meg. Só fantasmas mesmo pra me distrair.
No final, perdi meu precioso tempo e ganhei apenas outro protocolo de reclamação e um "volta outro dia". Fazia uns anos que eu ouvia isso. Eu estava ficando realmente cansada.

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