quarta-feira, 1 de abril de 2009

Rascunho

- Dois 'pão-carne-e-queijo' e uma Coca. Light, claro. Com batata grande - disse para a atendente.
Se tem uma coisa que sei sobre comida, é que refrigerantes dietéticos existem para que nós, mulheres, economizemos calorias desnecessárias.
Pra que tomarmos um copo de Coca-Cola com 200kcal se podemos tomar um com zero kcal e comer uma barra de chocolate? Ou um sorvete? Ou um outro sanduiche? Ou aquelas empadinhas que nossas avós fazem maravilhosamente bem? É, realmente refrigerantes "normais" são um desperdício!
- Aqui está, Senhora! - disse a atendente.
Olhei para ela com o olhar mais significativo que consegui dar. Senhora? Qual o problema dessa menina, meu Deus! Será que estou tão velha a ponto de ser chamada de senhora, casada, com filhos? Não. Eu me olhei no espelho hoje de manhã. Tá, ok, meu cabelo não teve uma boa noite de sono, mas ainda assim...
Procurei uma mesa vazia e me acomodei, sozinha, com meus lanches e refrigerante. Aquele não tinha sido um dia fácil e eu realmente precisava me recuperar através de muitas saborosas calorias.
- Cath! - uma voz feminina gritou do outro lado da praça de alimentação. Era Emily, minha melhor amiga.
Ela veio na minha direção e sentou-se comigo. Ela parecia feliz, muito feliz. Eu sabia o motivo daquela cara sorridente, mas comecei a rezar para que ela não me contasse. Infelizmente, não adiantou nada. Em um segundo, ela começou:

- Tentei te ligar milhares de vezes hoje. Sua mãe não faz idéia de onde você esteja. Mas eu imaginei que estivesse aqui. Você não sabe quem me pediu ajuda com os deveres de Matemática!
- Quem? - perguntei com medo da resposta.
- O Vitor, aquele menino lindo de olhos tão azuis que parecem da cor do oceano, da sala do lado da nossa, sabe?!
- Sei. - respondi fingindo um entusiasmo. A verdade é que eu sabia muito bem quem era o Vitor. Sabia desde o primeiro dia de aula do colegial, há 5 meses atrás. Sonhei com eles quase todas as
noites. Mas tenho certeza de que as chances de ele nunca ter reparado em mim, a gordinha da sala do lado, eram realmente (e infelizmente) grandes.
- Então! Ele veio falar comigo depois da aula perguntando se eu podia ajudá-lo umas duas vezes por semana com as lições. Parece que ele não é muito amigo dos números e soube que eu era boa nisso. Não é o máximo?! O cara mais lindo da escola pediu ajuda pra mim, euzinha! - Emily continuou falando...
Claro que era o máximo. Minha melhor amiga era loira, tinha olhos azuis, um corpo invejável. Era simpática, educada, engraçada e inteligente. Em outras palavras, perfeita. Quem não ia querer ter aulas com ela?
- Fico feliz por você. - disse sem muita vontade.
- O que há com você, Cath?! Você já não anda com uma cara muito boa, mas depois que eu cheguei aqui parece que você está ainda pior. Você não pode ficar feliz um minutinho porque a sua amiga aqui conseguiu uns momentos com o cara que ela gosta deste o primeiro dia de aula?
- Claro, estou muito feliz por você. É só um pouco de dor de cabeça.
- Ah, menos mal. Cath, estou tão feliz! Desde o primeiro momento que vi o Vitor, me apaixonei por ele. Nunca pensei que tivesse chances, mas agora que vamos nos encontrar com frequência, você sabe, talvez ele goste de mim. - minha amiga continuava falando que nem uma gralha.
Ela não fazia idéia do quanto aquele assunto me fazia mal. É claro que eu sabia que ela era doida por ele. Ela me contou isso no momento em que ele pos os pés na nossa escola. O que ela não sabia era que eu tinha sentido o mesmo, mas tinha guardado segredo. Fiz de tudo pra tentar mudar esse sentimento, porque ela era minha amiga e, encaremos os fatos, tinha muito mais chance do que eu. Mas falhei. Falhei miseravelmente.
Continuei pensando nele todos os segundos possíveis, olhando meio de lado nos intervalos, disfarçando para passar ao seu lado nos corredores. Meu coração queria pular pela boca cada vez que eu me aproximava, mas eu nunca tive coragem de passar disso.
Eu era só uma adolescente gorda com uma amiga loira e linda. Éramos tão amigas que, infelizmente, gostávamos do mesmo cara.
Liguei o automático na minha cabeça e continuei comendo enquanto a Emi esbanjava sua empolgação com a novidade. De vez em quando eu falava frases como "Legal" ou "Que bom" para que ela não percebesse que eu estava ignorando suas palavras e fechando minha mente pro super fato da vida dela que, pra mim, era o fim.

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