O bom daqueles dias de verão era que a responsabilidade sempre ficava esquecida. Eram dias de tudopode, dias de queromaiséserfeliz, dias de paz.
Eles se conheceram numa noite enluarada, com um céu tão cheio de estrelas e uma brisa tão suave que eles sabiam que era o clima perfeito. Eles sabiam que a química os tinha atingido, e isso significava que quaisquer palavras seriam desnecessárias e atrasariam o verdadeiro objetivo daquele encontro proibido.
A ligação entre eles era surreal. Era difícil acreditar que algo pudesse ser tão forte em tão pouco tempo. Eles simplesmente eram perfeitos um pro outro. Se entendiam sem palavras, se queriam em cada olhar.
Naquele verão, o destino os uniu até quando eles não esperavam. Eles não se ligavam, não marcavam hora. Simplesmente se encontravam ao acaso quase todos os dias. Não dava pra negar que eles tinham que ficar juntos.
Quando o verão acabou, cada um seguiu seu caminho. Trocaram (enfim) telefones e simplesmente foram embora. Os dois olharam pra trás. Os dois lamentaram a separação. Dizem que você tem que viver um amor totalmente, consumí-lo até o final, e eles sabiam que não havia um ponto final ali.
Conversaram por MSN. Arranjaram namorados. De vez em quando ela se pegava pensando nele, e vice-e-versa, e se punia por fazê-lo. De vez em quando ele a confundia com outras pessoas no metrô, e sabia que o fazia porque ele estava sempre entre seus pensamentos (sonhos). Mas a vida havia de seguir seu caminho.
***
Faziam 12 anos desde àquele verão. Não podia ser ele olhando-a de rabo de olho naquela mesa ao fundo do café. Ela agora tinha filhos, era feliz no casamento, havia encontrado alguém que realmente a queria bem. Era uma mulher bem sucedida, enfim, profissionalmente. Diante de tanta estabilidade, de tantas coisas certas e encaminhadas... Seu coração acelerou como nunca mais fizera. Era ele.
Ele era um cara feliz. Havia, a duras penas, conseguido uma promoção e agora tinha comprado seu apartamento. Tivera várias mulheres, mas nunca mais se apaixonara por ninguém. Descobriu ali, naquele café, que aquela mulher com as bochechas rosadas era a que ele amara sem perceber todos esses anos. Era ela.
Meio sem saber o que dizer, mas certo de que não poderia deixar a oportunidade passar, se aproximou e sentou-se à mesa junto da mulher amada. Não se falaram por muitos minutos, que pareceram poucos segundos. Apenas se olharam. Viram as diferenças que o tempo fizera, viram os sinais da maturidade, viram o peso da responsabilidade, mas viram também a chama da paixão nos olhares um do outro.
Sem jeito, ele pegou sua mão e ela permitiu, sem reação. O toque parecia uma corrente elétrica passando por seus corpos. Era tão forte que chegava a ser incontrolável. Sentiram-se as mãos, os braços, os rostos. Deixaram-se levar pelo momento. Quando viram, estavam se beijando.
Ela pensava na irracionalidade daquilo, nas consequências, na família que construíra e que podia ser desfeita se alguém soubesse. Sabia que era errado, mas não havia nada que pudesse ser feito. Aquele amor não consumido havia voltado. E nenhum destino separaria o que havia unido ali, novamente.
Era era uma mulher sensata, que tinha medo de viver e media os prós e contras até pra comprar um chiclete. Naquele dia, ela era outra pessoa. Pela primeira vez, o amor, o desejo, o prazer, haviam-na dominado completamente. E ela não tinha forças, e coragem, para desfazer-se dos braços com os quais sonhou secretamente desde a adolescência.
Ele sabia que a vida não era fácil. Sabia que tudo tinha um sentido. Por todos esses anos, a procurara em cada canto, e quando não aguentava de saudades a telefonava. Ela era sempre discreta e vaga, tinha medo de se render. Mesmo assim, ele gostava de ouvir sua voz, confortava seu coração. Rezava todos os dias para encontrá-la mais uma vez e provar, cara a cara, que ela não sentia o mesmo. Naquele café, numa manhã gelada, ele encontrara todas as respostas, pras suas angústias e pro seu futuro. Ele tinha um motivo pra viver agora, finalmente a tinha novamente em seus braços. Quando ela se entregou sem exitar, ele sabia também que não a perderia pra vida mais uma vez. Não se pode lutar contra o amor verdadeiro, ou seiláoque que aquilo fosse.
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