Mudanças

As benditas mudanças sempre acontecem, sempre TÊM que acontecer, para que a vida gire, para que a alegria não vá embora, para que novos desafios sejam superados. Ela até podia optar por não mudar, não se mexer, continuar naquela vida. Mas não dava. O futuro batia na porta, e já começava a esmurrá-la querendo entrar. Ela não podia lutar contra o sistema capitalista: precisava de dinheiro e ponto final. Mas era bem verdade que ia doer, e ela odiava sentir dor.

Quando as mudanças vieram, a vida mudou, como era previsto. Mudou o caminho, mudaram as pessoas, ficaram as lembranças. Os dias passaram e a estranha no ninho já era capaz de sentir-se a vontade naquela morada. Já podia sorrir, já podia começar a contar sua vida.

Se arrependia? Não sabia. Sentia falta, mas não podia compartilhar a saudade que era só sua. As pessoas não entendiam porque ela tinha ido, se não conseguia mais falar com brilho no olhar. Dentro dela, porém, ela sabia que fizera a coisa certa. Ela sabia que o tempo curaria estas feridas, e guardaria com carinho suas lembranças. Ela sabia que a juventude havia ido embora no dia em que seguiu sem olhar para trás. Ela sentia-se ainda mais curvada com o peso da nova responsabilidade. Aprendeu a dar o seu melhor porque, bem ou mal, o tempo sempre passa. Até as noites mais doídas e os almoços de solidão vão embora com a maré.

O novo ciclo começara, e ela estava pronta. O difícil era deixar a juventude para trás e encarar que agora ela era uma mulher prestes a construir a família de seus sonhos. Ela tinha medo, mas sabia que tinha encontrado o amor, então era capaz de tudo. Ela tinha medo, muito medo, de que as lembranças finalmente fossem embora e ela conseguisse viver em paz. Ela tinha medo de esquecer porque, de certa forma, os bons e velhos tempos mantinham sua alma jovem e feliz. Ela tinha mesmo era saudade!