Separados... quem somos?

O meu último namorado era um babaca completo. Ele terminou comigo porque eu fui UM dia pra MINHA casa na praia e ele não pode ir porque tinha que trabalhar. Quando voltei, ele foi irredutível: era o fim. Eu sofri por aquele panaca por meses, sem entender o que eu tinha feito de errado. Jurei que não ia mais amar qualquer um e, mais importante que isso, nunca mais sentiria aquela dor no peito que me dava vontade de morrer logo ao invés de sentir aquele aperto no coração e aquelas lágrimas que cairam dias sem fim, levando com elas toda mísera lembrança do que fomos, deixando apenas um ódio tão grande dentro de mim que nunca mais foi embora. Eu prometi que esperaria por aquele que esperou por mim, e que seria feliz pra sempre. Fiquei na defensiva, claro, mas da primeira vez que senti aqueles lábios doces nos meus e aquele carinho inocente e provocante... eu me deixei levar.

Eu amei - e amo - o Guto com toda a força do meu coração e da minha alma. Ao lado dele eu fiz o que nunca tinha feito: pensei sobre futuro, entendi o que queria dizer compartilhar uma vida ao lado de alguém. Ele me enlaçou em seus abraços antes que eu pudesse lutar contra, e quando me senti em seu colo senti com sinceridade que ele não me faria passar por todo aquele sofrimento que eu já conhecia, e do qual fugiria na primeira vez que sentissee uma chama mínima de dor.

Foram anos de reciprocidade, de flexibilidade e de amor, sem fim, puro. Somos opostos, isso é fato. Eu escuto sertanejo, pagode e rádio de empregada. Ele vai no rock, quanto mais barulhento, melhor. Ele ama esportes. Eu curto no máximo meu spinning na academia, e tem que ser aquela academia x que eu vou há x anos com o professor x que já sabe que eu faço tal coisa. Ele é engenheiro. Eu fiz turismo. Ou seja, ele será rico, eu serei prestadora de serviços até o dia que não suportar mais e ai ou viro funcionária pública ou ganho na megasena. Ele almeja o mundo enquanto eu, até os 25 anos, nunca tinha andado em um avião. Ele tem aqueles amigos de sempre, que lhe são fiéis. Eu tenho conhecidos no mundo inteiro, por causa da Carol que eu fui até o dia que ele chegou. Eu curto a multidão, o show da moda, o carnaval em Salvador. Ele pode ficar com a família no feriado que nem liga. Eu amo praia e odeio interior. Ele adora interior e não suporta nem a areia. Em resumo, o que nos uniu esse tempo inteiro foi pura e simplesmente amor.

Eu sei que eu sou uma chata sem dimensões. Eu faço o que eu faço, o que eu quero, quando eu ponho na cabeça e ponto. Gosto de me conhecer, de ficar em silêncio as vezes, de curtir os sonhos que tenho de madrugada. Ele é um cabeça dura que fez tudo para me agradar, e lhe sou grata por isso. Nossos defeitos, que antes eram uma parte pequena, tornaram-se o maior do nosso relacionamento.

Comecei a pensar - e não é de hoje - se é isso mesmo que quero. Se esse amor é aquele amor pra casar, pra viver a vida juntos. Então tentei imaginar minha vida com e sem ele. Sem ele eu sou mais extrovertida, falo merda a cada segundo no mundo, não páro um segundo em casa e to sempre procurando fazer algo que não me deixe encontrar minha própria solidão. Com ele eu não sinto medo da solidão - sinto um pouco de falta dela, ou de ficar sozinha me perdendo em pensamentos -, com ele eu ocupei meus dias e minha mente e meu coração de tal forma que sem ele eu não sei nem por onde começar. Quando me perguntam o que eu quero pro meu futuro, eu não sei responder, mas sempre sei que ele estará lá. Eu o vejo ao meu lado, segurando minha mão, me dando força e me deixando trocar essa energia. Eu o vejo no dia do vestido branco, me esperando cheio de orgulho no altar. Eu o vejo ao meu lado na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, por todos os dias de nossas vidas. E não vejo isso porque é o correto, e sim porque é o que eu sinto.

O ponto x é que a gente tem brigado demais. Perdemos a tolerância um com o outro, e talvez até o respeito mútuo. Nos deixamos de lado porque, afinal, funcionamos juntos. Funcionamos por um tempo, mas sem manutenção, sem aquela dose de carinho, de surpresa, de flores, nós quebramos. A gente tenta girar a chave pra ver se funciona, mas engasgamos em nossos próprios erros. Essas brigas doem em mim, ferem meu coração, e me fazem lembrar do que prometi: nunca mais sofrer daquele jeito.

A diferença crucial é que dessa vez eu sei e sinto que o amo, e eu faria tudo pra que pudessemos ser aquele casal companheiro, amante e feliz que fomos. O que eu quero saber, Guto, é até onde você iria pela gente. Se nós dois mudarmos, ou nos tolerarmos de novo, podemos voltar pro nosso caminho feliz e continuar tornando reais todos os sonhos que construimos juntos. Se continuarmos assim, eu já consigo ver o fim da estrada: a gente se separa e cada um segue seu caminho.

Eu não quero a segunda opção, porque eu te amo, muito. Mas eu me amo também, e eu to cansada de chorar por me sentir tão infeliz. To cansada de tanta dor de cabeça por ficar pensando em uma solução.

A solução é uma só: se os dois querem, recomecemos. Com paciência e tolerância e reciprocidade de novo. Se só um quer, então saiba que você foi o grande amor da minha vida, a pessoa que me fez finalmente entender a essência do sentimento mais bonito do mundo e que me fez plenamente feliz por quase toda a nossa história juntos. Se for pra gente se separar, eu espero que você seja feliz e que encontre alguém que possa lhe ensinar e lhe mostrar o que eu não fui capaz. Alguém que volte a fazer você rir até sentir a barriga doer e que lhe permita ter uma razão pelo que lutar de novo. Eu te amei, e te amo, de todas as formas e maneiras e tamanhos e jeitos que pude te amar. Obrigado por cada segundo maravilhoso que eu tive o prazer de dividir com você. Obrigado por ter confiado seu amor a mim, e espero que ainda possamos fazer o nosso final feliz e cantar Can't take my eyes off of you" enquanto eu choro na igreja ao te encontrar...